A Verdade




Nos amores de D. Pedro e D. Inês entrelaçam-se a lenda e a verdade histórica.
Procurámos esclarecer, embora sucintamente, as verdades desta maravilhosa lenda e, para tal, procurámos obras de onde poderíamos encontrar as verdades.

Baseámo-nos, sobretudo, nas crónicas de D. Afonso IV (de Rui de Pina) e de D. Pedro I (de Fernão Lopes).







O casamento do infante D. Pedro com D. Constança Manuel, em 1340


“no mês de Agosto do dito anno trouxeraõ muy honradamente adita Infanta a Lisboa, que foy recebida grandemente, & onde se fizerão suas bodas cõ o dito Infante Dom Pedro que hera de idade de vinte annos, nas quais ouve grandes festas, & muytos prazeres que elRey geralmente mandou também fazer por todolos ugares do Reyno."



Chronica d’El-Rei D. Afonso IV, Rui de Pina (página 126)




Inês de Castro, o “Colo de Garça”, pertencia a uma das famílias mais nobres e poderosas de Castela e era uma das damas que integravam o séquito de D. Constança







“E pera mais declaração da geraçam desta Dona Ines de Castro, que despois de sua morte foy avida, & sepultada por Raynha de Portugal. He de saber que Dom Fernão Rodrigues de Castro, vassallo de elRey de Castella, gram senhor no Reyno, foy cazado com Dona Violante Sanches, filha bastarda de elRey Dom Sancho de Castella, & irmãs da Raynha Dona Beatris molher que foy de elRey Dom Affonso de Portugal, & della ouve hum filho Dom Pedro Fernandes de Castro, que disseraõ da Guerra, primo cõ irmão do Infante Dom Pedro de Portugal, o qual era grande senhor em Galiza, & foy Camareyro mor deste Rey Dõ Affonso de Castella, & adiantado mòr da frontaria, & morreo de sua doença no cerquo de Aliazira, quando este Rey a tomou aos Mouros [...]"



D. Pedro apaixona-se por Inês


Realmente, não havia necessidade de confirmar esta afirmação. Bastar-nos-ia visitar os túmulos e encontraríamos a verdade desse amor. No entanto, transcrevemos um excerto da Crónica de D. Pedro I, de Fernão Lopes, onde se salienta o facto de D. Pedro se ter apaixonado por D. Inês estando ainda casado com D. Constança.





"Este verdadeiro amor ouve elRei Dom Pedro a Dona Enes como se della namorou, seemdo casado e aimda Iffamte, de guisa que pero dela no começo perdesse vista e falla, seemdo alomgado, como ouvistes, que he o prinçipal aazo de se perder o amor, numca çessava de lhe emviar recados, como em seu logar teemdes ouvido. Quanto depois trabalhou polla aver, e o que fez por sua morte, e quaaes justiças naquelles que em ella forom culpados, himdo contra seu juramento, bem he testimunho do que nos dizemos."

Crónica de D. Pedro I, Fernão Lopes



Tenta evitar-se a relação amorosa de D. Pedro com D. Inês estabelecendo-se laços de parentesco moral (compadrio)

“O Infante Dom Pedro filho primogénito erdeyro de elRey Dom Affonso de Portugal, foy cazado com a Infãta Dona Costança Manoel, como atrás he declarado, & della ouve dous filhos, & huma filha asaber, o Infante Dom Luis, que foy o primeyro, & este moço faleceo ao baptismo, do qual Dona Ines Pires de Castro, foy comadre, de elRey Dom Pedro sendo Infante, & da Infanta Dona Costança, & isto se fez por quanto esta Dona Ines andava em casa da dita Infanta por sua donzela, & parenta, & sentiasse já que o Infante Dom Pedro lhe queria bem, & por se evitar antre elles outra affeyçam (…)”

Chronica d’El-Rei D. Afonso IV, Rui de Pina (página 186)


Inês e Pedro passam a viver juntos nos Paços de Santa Clara, em Coimbra.


Nascem bastardos.

D. Pedro inseriu-se na politica castelhana e os fidalgos portugueses temem a ambição e influência da família Castro que podia levar ao torno português um dos filhos da ligação ilegítima de Pedro, em detrimento do herdeiro legitimo, D. Fernando, filho de D. Pedro e D. Constança.


O rei D. Afonso IV e seus conselheiros analisam a situação e concluem da necessidade de matar Inês.

«(...) com o falecimento de D. Constança (1345), D. Pedro se decidiu a viver maritalmente com D. Inês, de cuja ligação nasceram quatro filhos. O que veio pôr os conselheiros mais íntimos do Monarca, (...) em alvoroço, dado o perigo que representava para a paz interna do país a existência de tais bastardos. E comulativamente com estes, a influência que os irmãos de D. Inês de Castro, Álvaro Pires de Castro e Fernando de Castro passaram a exercer sobre D. Pedro, dado o poderio do grande fidalgo galego, Pedro Gonçalves de Castro, pai de D. Inês, pronto a actuar, certamente, em proveito dos netos, no momento em que estivesse em causa a sua sucessão ao Trono de Portugal.» (Souto, 1985: 155).



D. Afonso IV chega a Coimbra com alguns fidalgos

“Estando el-rei em Montemor-o Velho, concluindo já e consentindo na morte da dita D. Inês, acompanhado de muita gente armada se veio a Coimbra, onde ela estava nas casas do Mosteiro de Santa Clara.” In Crónica de D. Afonso V



A morte de Inês originou uma rebelião comandada por D. Pedro.


“E por esta morte, Rei pai e filho Ymfãte Dom Pedro ouveram muitas dyscordias e desobidyecias, e allevamtaentos de Villas, Cidades, fortallezas, em que se matavam muitos homens, faziam grades crimes no Reino (…)”


In Collecção de Ineditos de Historia Portugueza de Cristóvão Rodrigues de Acenheiro


Transladação de Inês


"E fez trazer o seu corpo do mosteiro de Samta Clara de Coimbra, hu jazia, ho mais homrradamente que se fazer pode, ca ella viinha em huumas andas, muito bem corregidas pera tal tempo, as quaaes tragiam gramdes cavalleiros, acompanhadas de gramdes fidalgos, e muita outra gente, e donas, e domzellas, e muita creelezia. Pelo caminho estavom muitos homeens com çirios nas maãos, de tal guisa hordenados, que sempre o seu corpo foi per todo o caminho per antre çirios açesos; e assi chegarom ataa o dito moesteiro, que eram dalli dezassete legoas omde com muitas missas e gram solenidade foi posto em aquel muimento: e foi esta a mais homrrada trelladaçom, que ataa aquel tempo em Portugal fora vista. "

Crónica de D. Pedro I, Fernão Lopes